O ciclo bienal das leituras do Ofício das Leituras


O Concílio Vaticano II valorizou o costume que a Igreja conservava de celebrar a Liturgia das Horas no decorrer do dia, conforme antiga tradição, cumprindo assim o mandato do Senhor de orar sem cessar. No desejo de renovar esta tradição, ele procurou reformular esta oração, a fim de que os padres, religiosos e leigos pudessem rezá-la melhor e mais perfeitamente, nas condições da vida de hoje (cf. Constituição sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium, n. 84).


Nesta reformulação pós-conciliar, a comissão da Congregação do Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, formada para este propósito, procurou uma melhor distribuição e completude das leituras do Ofício das Leituras, alternando com àquelas do Leccionário da Missa, deixando para a Liturgia das Horas os textos mais complexos e longos do Antigo e do Novo Testamento. Além disso, a Igreja é rica nos textos do seu Magistério e da Tradição, que precisavam também estar disponíveis.


Assim, as leituras do Ofício das leituras foram distribuídas em um ciclo bienal, ou seja, ao longo de dois anos. Entretanto, por razões práticas (já que seriam necessários oito volumes para acomodarem todas as leituras, juntamente com o saltério) optou-se por uma simplificação com a remoção de praticamente a metade das leituras de modo que coubessem num ciclo anual, ou seja, distribuídas ao longo de apenas um ano. Assim ficou configurada a Liturgia das Horas em quatro volumes, da forma como nós dispomos hoje.


Este trabalho de reformulação foi aprovado pelo Papa Paulo VI através da Constituição Apostólica Laudis Canticum de novembro de 1970, sendo a edição típica da Liturgia das Horas publicada em 1971.


O conjunto completo das leituras distribuído no ciclo bienal deveria, então, fazer parte de um “Suplemento”, conforme ficou definido na Instrução Geral sobre a Liturgia das Horas – IGLH (constante na parte introdutória do Volume I), cujos artigos desta Instrução que tratam deste assunto estão reproduzidos a seguir:


145. Há um duplo ciclo de leituras bíblicas: o primeiro abrange um ano só, e é o que vem no livro da Liturgia das Horas; o segundo, facultativo, é bienal, como o ciclo ferial «per annum» das leituras da Missa, e vem no Suplemento [grifo nosso].


146. O ciclo bienal das leituras está organizado por forma a lerem-se em cada ano quase todos os livros da Sagrada Escritura, reservando para a Liturgia das Horas os textos mais extensos ou mais difíceis que não é possível ler na Missa. O Novo Testamento é lido integralmente todos os anos, parte na Missa, parte na Liturgia das Horas. Quanto aos livros do Antigo Testamento, foram escolhidas aquelas partes que têm maior importância quer para compreender a história da salvação quer para alimentar a piedade. As leituras da Liturgia das Horas e as da Missa combinam-se entre si de maneira a evitar a repetição dos mesmos textos no mesmo dia ou a fixação dos mesmos livros nos mesmos tempos litúrgicos, o que viria a deixar para a Liturgia das Horas as perícopes menos importantes e a alterar a ordem dos textos. Isto exige necessariamente que o mesmo livro seja lido, alternadamente, um ano na Missa, outro ano na Liturgia das Horas; ou pelo menos, quando se tenha de ler (duas vezes) no mesmo ano, decorra um certo intervalo de tempo entre uma leitura e outra.


159. Segundo a tradição da Igreja Romana, no Ofício da Leitura, à leitura bíblica segue-se outra tirada dos Padres ou dos Escritores eclesiásticos, com seu responsório, a não ser quando haja uma leitura hagiográfica (cf. nn. 228-239).

 

160. Nesta leitura são apresentados extratos das obras dos Padres, Doutores da Igreja e outros Escritores eclesiásticos, pertencentes tanto à Igreja Ocidental como Oriental, dando preferência aos Padres que na Igreja gozam de particular autoridade.

 

161. Além das leituras indicadas para cada dia no livro da Liturgia das Horas, há também um Lecionário facultativo com maior abundância de leituras, para facultar mais largamente aos que recitam o Ofício divino os tesouros da Tradição da Igreja. É deixada à liberdade de cada um a escolha da segunda leitura, tomando-a ou do livro da Liturgia das Horas ou do Lecionário facultativo.


Este suplemento de que trata o artigo 145, portanto, é muito importante porque muitos textos da Sagrada Escritura e do Magistério foram subtraídos do ciclo bienal original para que coubessem em um ciclo anual, como já dissemos anteriormente, perdendo assim um tesouro para o orante. Entretanto ele nunca foi publicado em língua portuguesa, embora existam lecionários bíblico-patrísiticos para o ciclo bienal do Ofício das Leituras publicados em italiano e espanhol.


Recentemente o Caminho Neocatecumenal propôs a introdução do ciclo bienal para a Liturgia das Horas, seguindo os textos indicados pelo liturgista Pe. Pedro Farnés Scherer, à partir do original italiano (L'ora dell'ascolto. Lezionario Biblico-Patristico a Ciclo Biennale Per u Ufficio Delle Letture. Unione Monastica Italiana per la Liturgia, Ed. del Deserto, 1997).


A tradução e editoração do ciclo bienal em língua portuguesa (Brasil), com as leituras distribuídas em Ano I (anos ímpares) e Ano II (anos pares), foi organizada e impressa em 6 volumes, conforme a figura abaixo:











Estes mesmos textos estão sendo disponibilizados também no aplicativo iLiturgia. À partir da versão 6.1.2 foi dada a opção ao orante de rezar o Ofício das Leituras pelo ciclo bienal, bastando para isso selecioná-la na aba “Ajustes”. Nesta versão foi liberado o conjunto das leituras do Ano I, da 18a até a 34a semana do Tempo Comum. Adicionaremos as demais leituras nas próximas versões.

 

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